O Sauvignon Blanc, segundo o enólogo chileno Felipe García – Parte II
Na semana passada publicamos a primeira parte da matéria de Felipe García, destacado enólogo chileno que, junto à sua esposa Constanza (também enóloga), produzem alguns dos Vinhos de Autor mais interessantes do planeta. Talvez você já tenha escutado falar deles, e já tenha tido a sorte de degusta-los: são o Marina Sauvignon Blanc, o Sofia Pinot Noir, o Vigno Carignan e o Facundo Assemblage. Se está se perguntando o porquê dos nomes dos vinhos, vou aproveitar esta matéria para explicar sobre o Facundo, que foi o primeiro vinho que Felipe e “Cony” (apelido da Constanza) elaboraram… Ou melhor: criaram.
Este nome surge da seguinte maneira. Quando a Cony estava grávida, seu médico logo após de fazer o exame de ultrassom, informou que teriam um menino. O nome escolhido para o seu filho era Facundo. Só que após os nove meses de gestação, quem nasceu foi uma menina (e não um menino, o doutor estava errado. Então Facundo foi o nome que este casal de enólogos deixou para colocar no seu outro filho, esse que, como Felipe Garcia descreve na primeira parte desta matéria, é como “um membro da família”. O seu primeiro vinho: Facundo.
Voltando ao assunto: a primeira parte da matéria foi dedicada a explicar todos os detalhes na elaboração de um Sauvignon Blanc de alto nível, em vários pontos de vista. A importância do clima, do solo, das temperaturas de fermentação, até dos clones. Ou seja, Felipe esta dando todas as dicas para poder elaborar um grande Sauvignon. Agora apresentamos a segunda parte da matéria. É só ler e anotar as dicas, talvez, se seguir os passos ao “pé da letra”, você consiga elaborar seu próprio vinho.
O Sauvignon Blanc e a importância de seu Terroir
Aqui cada decisão que tomarmos afetará diretamente o tipo de vinho que obteremos. Assim, por exemplo, se fermentamos mostos muito claros, os vinhos ficarão prontos mais rápidos, mas se fermentamos extratos muito turvos, corremos o risco de ter vinhos com aromas “sujos” por causa da falta de O2.
No meu caso as fermentações sempre acontecem para alcançar duas condições: aroma e intensidade no paladar. Para isto, é necessário começar com uma turvação média ou alta, que nos permitirá misturar os sedimentos deixados depois da fermentação para a obtenção de mais sabor. Devemos nutrir o mosto e fermentá-lo a uma temperatura que nos permita conseguir a maior quantidade de compostos aromáticos. Se fermentarmos a uma temperatura muito baixa, as leveduras se estressam e geram outros tipos de aromas que não desejamos para este tipo de vinho.
O cuidado aos detalhes, as temperaturas, a oxigenação, desde o processo de fermentação até o armazenamento e engarrafamento, nos asseguram de obter um vinho nas melhores condições, as decisões técnicas que tomamos nos darão a qualidade do vinho.
No meu caso produzi vinhos para companhias grandes e também para projetos pequenos, como o meu atual (Bravado Wines), e as diferenças são enormes. Quando se faz um vinho De Autor, não há nenhum tipo de ligação além do próprio gosto. Aqui não há regras a seguir, nem séculos de história, muito menos opiniões impostas pelo departamento de marketing da vinícola e os vendedores dizendo o que vende mais e o que vende menos. Quando faço meus vinhos hoje, faço aquele que me agrada beber em casa com meus amigos. Este vinho que sempre sonhei e que cada ano tenho a oportunidade de fazer novamente.
Para mim o Sauvignon Blanc hoje é uma das variedades em que o Chile pode competir com os melhores do mundo. Não há nada que um Sauvignon Blanc de Casablanca possa invejar de um neozelandês ou francês. Hoje temos grandes empresas fazendo Sauvignon Blanc que vão desde os mais simples vinhos de aperitivo a grandes vinhos que podem passar vários meses guardados dentro de um barril. Hoje podemos encontrar diversos estilos e qualidades, mas uma coisa é certa: os Sauvignon Blanc do Chile estão entre os melhores do mundo. Estou muito feliz de ver que nosso vinho (Marina Sauvignon Blanc) está sempre destacado entre os melhores expoentes desta uva na América do Sul. Além disso, o que é mais importante: meus amigos e familiares o adoram e essa é a essência de elaborar um vinho de autor. É como um membro a mais em nossa família.
Nas próximas matérias falarei sobre uma variedade de uva tinta com a qual creio que o Chile pode chegar também às grandes ligas. Estou falando da surpreendente uva Carignan. Fique ligado!