Análise sensorial: a evolução das cores do vinho
Os aromas dentro do que se refere à analise sensorial e em relação ao prazer que os vinhos entregam é um dos fatores mais importantes (ou talvez o mais importante). Isso explica que quando um degustador tem uma boa percepção sensorial e habilidade na degustação, falamos que ele tem um “bom nariz”.
Mas antes de submeter o vinho à analise olfativa, temos outro sentido que vai nos ajudar e que não podemos deixar de lado: a visão, já que alguns elementos precisamos observar antes de continuar com as outras análises. A vista vai nos permitir principalmente avaliar e analisar dois pontos:
• A Saúde do vinho:
A aparência do vinho que podermos avaliar através de uma análise visual nos indicará se o vinho está (ou não) saudável. Portanto a primeira coisa que devemos fazer é prestar atenção em seu aspecto. Precisamos avaliar se ele tem algum elemento em suspensão (que gera a turbidez e que em algum dos casos nos alerta sobre alguma enfermidade no vinho).
Precisamos ter muito cuidado nesta parte da análise, já que tenho observado que muitas vezes os consumidores pouco experientes ficam muito assustados na hora de degustar e fazer a análise visual do vinho ao perceber certos resíduos ou sedimentos no fundo da garrafa – ou até mesmo na taça. Costumam considerar isto como um defeito – sendo que não é.
Muitos vinhos que não são filtrados, e a maioria das vezes esta informação aparece no rótulo (“unfiltered”) e no contrarrótulo da garrafa. Isto acontece na maioria dos casos com vinhos de boa qualidade. Portanto, como isto não atrapalha na análise de outros sentidos (aroma e sabor) deveríamos ficar tranquilos, já que no momento de filtrar o vinho extrai-se uma parte importante de polifenóis (e assim, os antocianos e os taninos também são eliminados neste processo técnico, e o vinho perde cor e seus componentes que entregam aroma e sabor).
• A Idade do Vinho:
A vista irá nos revelar a idade de um vinho com uma precisão incrível. Muitas vezes, inclusive, poderemos acertar exatamente a safra do vinho, principalmente quando se trata de vinhos brancos de safras recentes. É realmente muito fácil de aprender, e podemos dominar esta técnica depois de poucos vinhos degustados. Essa análise é fundamental e já vai nos ajudar complementado com as outras análises (olfativa e gustativa).
A cor dos vinhos está (igual os aromas, a acidez, os taninos e alguns outros elementos) em constante evolução, e esta evolução, no caso dos vinhos brancos, é muito mais rápida que nos vinhos tintos. Os vinhos brancos, como são jovens e não tiveram crianza em madeira, têm uma cor muito clara, quase como a cor da água que a gente costuma chamar de “amarelo claro cristalino”. Quando começa a passar o tempo (lembrando que a curva de vida dos vinhos brancos sem madeira é extremamente curta) os vinhos brancos começam a tomar uma cor mais palha, logo dourada, até terminar com uma cor marrom, o que normalmente indica que o vinho já está decrépito, velho demais, estragado, salvo raras exceções.
Na hora de fazer a análise visual, devemos considerar que existem algumas uvas que já entregam desde um princípio uma coloração mais escura ou mais dourada, e também influencia o momento de madures na hora da colheita, o grau de acidez PH do vinho, e a quantidade de S2O (anidrido sulfuroso) utilizado na elaboração (quanto maior é a concentração, maior é a transparência e a fixação da cor). Então temos sempre que estar atentos para não errar na hora de fazer análises visuais.
Outro ponto importante que tenho que mencionar é que os vinhos que passam em barrica têm uma mudança considerável na cor. Assim, um vinho branco pode ser jovem e ter uma cor mais dourada, mas neste caso a causa foi a crianza em madeira (aí vamos ao nariz sentir o aroma da madeira).
No caso dos vinhos tintos acontece algo parecido. Ou seja, o aspecto visual vai estar em constante evolução, o que se explica pela polimerização dos taninos e as antocianos (pigmentos que estão na pele e que entregam a cor do vinho tinto), através da união de suas moléculas que se transformam e juntam, ficando de um tamanho maior – razão pela qual estas ficam com peso maior e precipitam, ficando no fundo da garrafa com um aspecto de “lama”, erroneamente chamadas de “borras”.
Esta evolução permite que a mudança de cor seja muito evidente e funciona da seguinte maneira: os vinhos tintos, quando são jovens, têm sempre um coloração violeta e intensa (independente da concentração). Deve-se considerar os mesmos dois aspectos que mencionamos com o exemplo dos vinhos brancos, ou seja, quando os vinhos tintos passam por madeira, esta acelera a polimerização dos taninos e as antocianos, portanto a cor muda de maneira mais rápida.
Também temos que lembrar que existem uvas com diferentes potenciais de cor. Um bom exemplo é a uva Pinot Noir, que dentro da composição celular de sua pele tem uma baixíssima quantidade de antocianos, razão pela qual seus vinhos têm uma coloração muito mais clara que a média das uvas tintas.
Contrariamente existe uma uva que se chama “tintorera” e que tem uma concentração extraordinária de cor, que é um grande diferencial frente às outras uvas tintas por ter estes pigmentos de cor não só na pela (o que é o normal), mas também no suco, motivo pelo qual é muito procurada e valorizada para “pintar” os vinhos brancos. Assim, em safras nas quais existe escassez de vinhos tintos, as bodegas, usando como base um vinho branco, colocam uma pequena porcentagem de tintorera e transformam um vinho branco em um vinho tinto.
Podemos dizer que, como a evolução os vinhos tintos sempre vai se acelerando, ou seja, o resultado da mudança química e física que acabamos de explicar se traduz agora em uma mudança constante da cor que está estreitamente ligada a uma mudança também sensorial, dos seus equilíbrios, texturas e em termos gerais dos seus aromas e sabores.
As cores que no começo foram violetas e intensas terminam logo após vários anos (ou até décadas) com um aspecto único, com tons claros, que definimos como “tijolo” ou “alaranjados”. Esta é uma etapa crítica, já que esta cor indica claramente que estamos frente a um vinho que já está evoluído. Mas agora o importante será ver se este vinho tinha ou não potencial para evoluir corretamente. Podemos dizer que todos os vinhos envelhecem, mas nem todos melhoram.
[author] [author_image timthumb=’on’]http://vinhoemprosa.com.br/wp-content/uploads/2012/12/alex2.jpg[/author_image] [author_info]Alex Ordenes é o único sul-americano titulado Sommelier Conseil pela Université Du Vin, em Suze la Rousse, na França. Não tem nada da vida que o fascine mais que os aromas dos vinhos e a magia que eles têm de estar em constante evolução e transformação. Também gosta muito de viajar, de elaborar vinhos, criar e fazer os blends das barricas… Gosta também de repassar seus conhecimentos, fruto de 20 anos de experiência, curtir a família e, é claro, de uma boa praia.[/author_info] [/author]